Por Pachá
Me tornei fã de Zurlini quando assisti ao excepcional O Deserto dos Tártaros. O esmero de Zurlini no manejo da câmera para captar sentimentos, seja estes desventuras amorosas ou de ideais, é brilhante. Em La Ragazza con La Valigia de 1961, no Brasil com tradução ao pé da letra, A moça com a valise, narra a descoberta e a dor do primeiro amor. Lorenzo Feinard (Jacques Perrin) é um adolescente órfão de mãe, criado pela rígida tia e pai ausente. Embora seja de uma família abastada de Parma, o rebento vive à sombra de seu irmão mais velho, um playboy irresponsável, que engana uma cantora de boate com promessa de gravação de discos, shows e fama.
A jovem Aida (Cláudia Cardinale) se recusa a ser insultada com impunidade, e parte para encontrar o ragazzo que a enganou. E chega à porta da mansão dos Feinard. O irmão mais velho incube o mais novo, Lorenzo a se livrar da tonta, segundo seu julgamento. Mas ao ficar frente a frente com a ingênua moça e sua valise, Lorenzo sente não só a força dos hormônios, mas o desabrochar de um sentimento até então escondido. E para garantir que a verá novamente, mente ao dizer que conhece o sujeito que ela está procurando, sem dizer que o mesmo é seu irmão.
A partir daí Zurlini trabalha seus diálogos e planos de câmera para desenvolver o casto amor de Lorenzo por Aida. Como o país religioso que é a Itália, a igreja exerce grande influencia em sua população, basta ver que o tutor de Lorenzo, mesmo na década de 60, é um padre. O que faz com que Lorenzo fique dividido entre os ensinamentos de seu tutor, e o pecado de exteriorizar um sentimento que o faz cometer atos que podem causar grande choque em sua rica família.
Aida conhece os sentimentos que Lorenzo nutre por ela e tira proveito dele não por maldade, e sim por necessidade, mesmo que carregado de ingenuidade. Ela passa a aceitar presentes dele sem questionar como ele conseguiu recursos para tal. E logo chega o momento em que sua mentira se torna insustentável e recorre à única pessoa em que ele confia, seu tutor. Mas esse sabe que a moça é uma perdida, pois já tem filho sem pai e que seu sustento pela prostituição é inevitável.
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