segunda-feira, 9 de maio de 2011

Les Deux Anglaises et le Continent


Por Pachá
Em 1961 Truffaut adaptou para as telas o romance Jules et Jim do escritor francês Henri-Pierre Roché onde retrata o triangulo amoroso de um mulher e dois homens. Dez anos mais tarde, 1971 Truffaut leva para as telas outro romance de Henri-Pierre Roché, Les Deux Anglaises et le Continent onde mais uma vez retrata um triangulo amoroso, mas desta vez um homem e duas mulheres.

Truffaut foi um dos poucos cineastas que soube captar com maestria a felicidade, os relacionamentos, a tristeza, o amor e a inocência. Sua sensibilidade para os temas citados é de uma ternura que encanta até os mais descrentes do assunto. Em Les Deux Anglaises et le Continent Truffaut usa sua narrativa clássica, sem rodeios ou voyeurismos e preenche a tela somente com o necessário a construção e desenvolvimento dos conflitos dos personagens.

No final sec. XIX Claude (Jean-Pierre Léaud) é um filho órfão de pai, criado sob extremo protecionismo materno. Através de uma espécie de intercambio entre a mãe de Claude e sua também viúva e amiga Mrs. Brown que vive em pais de Gales, Claude conhece Ann (Kika Markham), jovem puritana, mas já sofrendo influencia da era vitoriana, onde o sexo era a grande experiência. Ann desde o primeiro contato sente certa atração por Claude, mas por razões intelectuais ela praticamente o empurra para sua irmã Muriel (Stacey Tendeter).


Em retribuição a visita de Ann a Claude e sua mãe madame Roc (Marie Mansard). Claude vai a pais de Gales no intuito de melhorar seu inglês e lá conhece Muriel uma típica puritana carregada de pudor, mas assim como sua irmã Ann, com intensa curiosidade sobre as relações entre homens e mulheres. A cena em que elas perguntam a Claude com são os bordéis na França é de uma inocência quase poética. O tempo em que Claude passa na casa dessas três mulheres ele é abraçado por uma felicidade que imaginara nunca existir. Sua atração por Muriel cresce sob o olhar atento, e por vezes despretensioso de Ann que parece gostar e auxiliar na união dos dois. Claude então pede Muriel em casamento, mas as mães de Claude e Muriel parecem não compartilhar desse pensamento. E os dois são separados. Claude volta para França onde se sai bem como critico de arte. Um referencia a própria vida de Truffaut que foi um dos mais importantes critico de cinema da famosa revista Cahiers du Cinéma, de onde juntamente com os novos turcos, em referência ao movimento na Turquia para derrubar a monarquia; François Truffaut, Jean-Luc Godard, Alain Resnais, Jacques Rivette, Claude Chabrol e Eric Rohmer, criaram o movimento nouvelle vague.

O tormento dos jovens que são separados quando mais precisavam se ver tem maiores consequências em Muriel que com a ausência de Claude sente o peso do amor que nem ela mesmo sabia que era possível. Claude por sua vez dar vazão as sua experiências com mulheres, em uma França onde a descoberta do corpo era o grande frisson, ainda mais pelo advento da fotografia como arte. E tem vários romances, sempre encorajado pela mãe a ter uma vida sem muito compromisso no campo afetivo, para que este não afete seu trabalho.

A narrativa de Truffaut tem como inspiração os livros, porém como poucos, soube traduzir para as telas as nuances literárias, e não é a toa que em seus filmes tenha sempre um referencia literária ou mesmo uma exaltação ao ato de ler.

Claude volta a encontrar Ann que agora possui um ateliê de escultura e passa a desenvolver sua paixão por essa arte, inspirada pelas obras de Rodin. Os dois engatam um romance, e Ann decide perder sua virgindade com Claude. O amor dos dois é regado com certa liberdade, e Claude concorda que Ann deveria conhecer outros homens. Nesse momento Ann já completamente absorvida pelas ideias comportamentais da era vitoriana, engata romances seguidos, mas sempre tendo em Claude seu verdadeiro amor.

Em Gales Muriel ainda apaixonada por Claude tenta levar um vida normal, mas nunca esconde sua vocação para ser esposa e mãe. Ann que sempre viu em Muriel e Claude o verdadeiro amor, tentar reunir os dois. Mas ambos já não são os mesmo, e Muriel parece a mais transformada após a experiência de um amor não correspondido. Embora ainda tenha grande amor por Claude ela não nutre mais futuro em relação a este.

Les deux Anglaises et le Continent é um filme de amor e as agruras que este nos acomete quando decidimos colocar nos ombros de outrem nossa felicidade e vice versa. Não há nos filmes de Truffaut banalidade desse sentimento, há sim um empático e sensível olhar de quem nutria grande curiosidade para o tema, sempre apoiado em ombros altos de escritores que dissecaram o assunto com muita humanidade e, sobretudo com profundo conhecimento de causa.

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