segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Felicidade


Por Pachá
O texto abaixo é do frei Betto...
O que é felicidade? Aristóteles assinalou: é o bem a que todos almejamos. E alertou meu confrade São Tomás de Aquino: mesmo ao praticarmos o mal. De Hitler a madre Teresa de Calcutá, todos buscam em tudo que fazem a felicidade, a diferença reside na equação altruísmo / egoísmo. Hitler pensava em suas hediondas ambições ao poder. Madre Teresa, na felicidade daqueles que Frantz Fanon denominou "condenados da Terra".


A felicidade o bem mais ambicionado, não figura nas ofertas do mercado. Não se pode comprá-la, há que conquistá-la. A publicidade empenha-se em nos convencer de que ela resulta da soma dos prazeres. Para Roland Barthes, o prazer é "a grande aventura do desejo". Estimulada pela propaganda, nosso desejo exila-se nos objetos de consumo. Vestir esta grife, possuir aquele carro, morar neste condomínio de luxo, reza publicidade, nos fará felizes.


Na contramão do consumismo, Jung dava razão a São João da Cruz: o desejo busca, sim, a felicidade, "a vida em plenitude" manifestada por Jesus, mas ela não se encontra em bens finitos ofertados pelo mercado. Como enfatiza o professor Milton Santos, acha-se nos bens infinitos.


A arte da verdadeira felicidade consiste em canalizar o desejo para dentro de si e, a partir da subjetividade impregnada de valores, imprimir sentido a existência. Assim consegue-se ser feliz mesmo quando há sofrimento. Trata-se de um aventura espiritual. Ser capaz de garimpar as várias  camadas que encobre o nosso ego.

Minha reflexão...
A felicidade na atual sociedade mercado de consumo é mais um item a ser vendido como produto, é válido ressaltar que a felicidade como algo tangível é fruto dos ideias iluministas, quando colocou as necessidade dos indivíduos no centro das preocupações humanas, e de acordo com o filosofo e jurista inglês Jeremy Bentham "a felicidade é a vitória do prazer sobre a dor".  Mas tal sensação de "vitória" tem bases muito volúveis uma vez que é calcada em bases de extrema subjetividade, as emoções.

A felicidade banalizada quando posta como produto, e como tal precisa ter qualidade total, é crime ser infeliz, ou melhor só é infeliz quem quer. Temos uma gama de recursos inumeráveis para alcançar a felicidade, academias para nos tornar tesudos, cirurgias para nos tornar belos, acessórios para nos tornar desejável; carros, roupas, Prozac, Viagra etc... Em suma é proibido sofrer como disse Arnaldo Jabor. Mas como coloca Milton Santos a felicidade material tem validade, e enquanto vivemos nesse presente continuo de felicidade produto, anulamos uma parte importante da condição humana, a tristeza, a melancolia. Eric G. Wilson escreveu a respeito, "Estamos aniquilando a melancolia. Inventaram a ciência da felicidade, livros de auto ajuda, pílulas de alegria, tudo cria um admirável mundo novo, sem bodes, felicidade sem penas. Isto é perigoso, pois anula uma parte essencial da vida: a tristeza".

A satisfação total do cliente é a meta de qualquer produto, e assim temos a felicidade como bem de consumo aferidos com ISO 9000, Total Quality. Castramos nossa verdadeira liberdade, quando há sempre um mercado, um comercial decidindo por nós, nos inebriando. No meu limitado conhecimento da condição humana, não conheço artista, profissional que tenha criando grande obra em momento de felicidade profunda ou mesmo de superficial, e sim quando em contato com o real, o real de Lacan a pulsão da morte. Os momentos de reflexão que transformam, transcendem acontecem em estados de melancolia, tristeza, não a tristeza carente de tratamento clínico, mas a tristeza que nos dá a consciência da finitude, do abismo, dos mistérios do universo. O prêmio Nobel de literatura Vargas Llosa em um de seus artigos no jornal El Pais escreveu. "Palavras como, espírito, ideais, prazer, amor, solidariedade, arte, criação, alma, transcendência, significam ainda alguma coisa? (...) Antes a razão de ser da cultura era dar respostas a esse tipo de perguntas, porém o que hoje entendemos por cultura está esvaziada por completo de semelhantes responsabilidades. Hoje o que chamamos de cultura é um mecanismo que nos permite ignorar assuntos problemáticos; é uma forma de diversão ligeira para o grande público esquecer-se o que é sério, como uma fileira de cocaína ou férias de irrealidade".

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