segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Rashomon 1950

 
Por Pachá

O filme de Kurosawa é um exemplo magistral de como o tempo pode ser manipulado pelo cinema. Ideia essa muito trabalhada pelos cineastas da década de 50, onde o cinema enquanto arte havia adquirido linguagem própria ao se desgarrar de sua irmã mais vela, o teatro. Graças ao Sr. Eisenstein ao criar o método de montagem.

Em Rashomon, Kurosawa conta a mesma historia de quatro pontos de vista diferentes em idas e vindas no tempo que concede ao filme linguagem rítmica e narrativa bem peculiar para época. 

Baseado nos contos de Rynosuke Akutagawa (1892-1927), Rashomon e No Matagal. Do primeiro Kurosawa usa o título e personagem, camponês (Takashi Shimura) atormentado pela perda do emprego. Do segundo tem-se o cerne do filme, um estupro dentro de um matagal. A partir deste Kurosawa trabalha questões como vicitudes, ética e moral. Na primeira cena temos camponês adentrando uma floresta para coletar lenha, e se depara com um corpo e restos do que seria um assalto. Ele então procura as autoridades, que rapidamente encontra o suposto malfeitor, um famoso ladrão Tojumaro (Toshiro Mifume). Deste ponto temos uma historia de tribunal que poderia ser exemplo para os muitos filmes do gênero que se seguiram em Hollywood com suas manjadas formulas. 


O jovem samurai (Masayuki Mori) em viagem com sua esposa (Machiko Kyô) é assaltado e sua jovem esposa estuprada pelo famigerado ladrão de estradas Tojumaro. E se em toda defesa de ponto de vista há duas posições, dos debatedores e a verdade, Kurosawa desconstrói esse fato, ou pelo menos sucinta novos olhares, afirmando que não há verdades absolutas e sim verdades aceitas, não por serem puras e sim por não encontrar argumentos que a refutem. Dentro dessa perspectiva Kurosawa coloca todos os envolvidos do assassinato. Ladrão, esposa e porque não o morto. Este também dá sua versão na figura de uma médium (Noriko Honma) que evoca espíritos desencarnados. Nessa procura pela verdade, sobra vaidade, orgulho e vilania nos depoimentos dos envolvidos, embora tentem preservar o minimo de honra possível, traço muito característico da cultura japonesa, fato este bem pautado no depoimento do assassino. Também há de se ressaltar que se a honra é parte do código de ética dessa cultura e assim sendo a engrandece ou a diferencia de outras culturas, principalmente ocidental, também acaba por dificultar a preservação da verdade enquanto justiça, dado que o assassino se declara culpado sem remorso ou autopiedade, o que vale são os motivos que levaram ao crime.

Nos três planos de narração que se segue, dos camponeses no portal Rashomon, dos interrogatórios e das versões dos envolvidos, se percebe uma elegante e coesa estrutura narrativa, que em momento algum provoca confusão de entendimento, sem mencionar que ainda há o esmero de deixar espaço para interpretação do espectador. As interpretações estão dentro do contexto da arte cênica japonesa, que para a cultura ocidental pode parecer excesso de emoção no desenvolvimento dos personagens, mas dai também surge outro ponto bem trabalhado da produção, a formação de personagens quem tem interpretações fortes, carregadas de emoções. O intrigante triangulo que se forma entre esposa, marido e assassino nas cenas da floresta é intenso e comovente em planos e traveling precisos e bem trabalhados em verdadeira aula de linguagem cinematográfica.

Rashmon é uma das obras mais maduras e incontestável de Kurosawa de onde se tem, ainda que adaptado, na qual o próprio Akutagawa colaborou, um dos roteiros mais inovadores da época. Para muitos, Rashomon é obra prima máxima desse influente diretor japonês.


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