sábado, 4 de junho de 2011

Em Um Quarto Qualquer - Tomo Derradeiro

 
Insólito e improvável
(Você vai e eu fico)

Em um quarto Qualquer - Tomo I e II 
 Pachá ® Todos os direitos reservados

O pequeno teto paira sobre meus pensamentos, por uma fração de instante me alegra, um teto sem luz, melancolicamente borrado. Mas a bebida trabalhará por oito horas em meu corpo, corroendo  fígado, alargando artérias, secando garganta, esmagando cabeça como imensa morsa fazendo pensamentos saltarem feito pipocas - Como o pica-pau consegue bater o bico 12 mil vezes por dia e não sentir dor de cabeça? O Teto parece criar vida. Penso nos amigos que me faltam. Penso como ensandecido assassino covarde. Seria capaz? Roubar, matar quem sabe? O teto começa a pulsar no ritmo da minha cabeça. Penso em Tanita, como somos infelizes, como somos carentes, quero sempre perguntar se sou bom irmão, ahahah, outra piada, que nem mesmo consigo disfarçar vontade de chorar, mas me falta coragem, pois sou um covarde medíocre na maioria das vezes, na outra apenas abjeto, com dor de dedo furado com alfinete, com meu egoísmo comedido de sujeito liquidado e sua matemática do homem medíocre - ahh, ahh, que grande piada e começo pensar em Marcelle, garota que vende fantasias e prazeres em curvas longilíneas, tão infeliz quanto eu, tão sonhadora quanto as que povoam meus sonhos, tão gostosamente solitária quanto uma boneca de silicone japonesa. 

E os pensamentos vão escorregado do cérebro pra retina. Visualizo nosso relacionamento, sincero, altruísta. Eu chegaria em casa, a esperaria, talvez o dia já teria amanhecido, e então perguntaria como foi o dia, ela me olharia, daria gargalhada que aos poucos se transformaria em soluços de choro abafado, choro de crispas lágrimas. Ela colocaria cabeça em meu colo e com voz aveludada de putain mélancolie, diria que teve um dia cheio, cheio de homens bolinado em seu corpo, cheio de remexerem a suas entranhas, cheio de líquidos ora viscoso ora apenas liquido e sem vida, cheio de gritos e de mentiras, e que agora queria poder dizer que nada disso importa, pois quando está comigo só existe o futuro de um breve presente, esse momento, e que ninguém conhece suas  covinhas quanto eu, e que as quartas-feiras apenas eu e somente eu posso desfrutar de sua bolsinha de rugosas pregas. Mas tudo é tão insólito quanto improvável. Eu a escutaria, cuidaria, colocaria para dormir, a vestiria pela manhã e a despiria a noite ou de manhã, não falaria que me sinto como um bondoso rufião, pois é assim que ela me vê, é assim que ela costuma dizer – Puta não tem namorado, tem cafetão. E assim permitiríamos o insólito e o improvável permear as nossas vidas, aplacando nossos anseios, nossa solidão. Mas a musica da casa do amor me acalma, acalma o teto sem luz e borrado e por instante eu fujo do insólito e improvável, mas meu amor é real...

“…Sentado sozinho em uma cadeira de plástico. O sol é cruel quando esconde o caminho…”

Nenhum comentário:

Postar um comentário