domingo, 3 de julho de 2011

Meia Noite em Paris


Por Pachá
O filme termina e ficamos com aquela sensação de que poderia ter mais uma hora. Woody Allen acerta mão e fez um filme se não novo, pelo menos no estilo que o consagrou. Meia Noite em Paris lembra em muito A Rosa Púrpura do Cairo, só que mais engraçado e otimista. Os diálogos ágeis e neuróticos dos personagens, um deleite a parte.

O filme divaga sobre o momento em que descobrimos que não podemos reviver determinados momentos, e ai o presente se torna um lugar insípido, sem graça e o desconforto toma conta da alma. Sim, isso tem nome nostalgia. Assim como Cecil (Mia Farrow) da Rosa Púrpura do Cairo encontra o conforto no passado, Gil Pender (Owen Wilson) também tem neste o refúgio do seu desconforto. Ao contrário da saudade a nostalgia aumenta quando em contato com o motivo que a causa. E Gil Pender ao mergulhar no universo da cidade luz dos anos 20 fica mais dependente desse universo. Wallen cria essa transição assim como um viciado vai ficando cada vez mais dependente da droga.

Claro que para Gil Pender há apenas a visão romântica de uma Paris de cafés e ateliês abarrotados de genios que hoje povam galerias de arte, livrarias e sons que nos encantam. Mas para cada um desses genios que hoje nos traz nostalgia, tantos outros sucumbiram de fome, de tuberculose, de sifilis nas ruas da cidade luz. Mas se perguntassem para eles certamente diriam preferir passar fome em Paris do que em qualquer outro lugar. Em Trópico de Câncer de Henry Miller há reflexão sobre essa sensação. Essa é outra mensagem que Allen dilui nas duas horas de filme, Paris é o refugio dos artistas, nela terão reconhecimento que o resto do mundo não lhes deram. 

No elenco além dos genios do anos 20; Zelda e F. Scott Fiztgerald, Hemingway, Pablo Picasso, T.S Eliot, Salvador Dalí (Adrien Brodi), Matisse e Gertrude Stein (Kate Bates) que arregimentava toda essa patota de batutas em sua casa. Há os personagens americanos, ricos, fúteis e esvaziados de qualquer sentimento da verdadeira arte. A família da noiva de Inez (Rachel McAdams) simboliza o mercantilismo da arte. Na outra ponta temos a linda primeira dama da França Carla Bruni (guia do museu Rodin), e a estoteante Marion Cotillard no papel de Adriana musa de Picasso e amante de Mondigilani. Adriana assim com Gil Pender carrga o desconforto da nostalgia, aplacando nas lembranças da Belle Époce.

Meia Noite em Paris é um Allen neurótico que fala direto com o espectador, sem aquelas irritantes narrações nos dizendo o que acontece o que vai acontecer. E Owen Wilson encarna com perfeição o alter ego de Allen.

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