Sunset Boulevard 1950 (Crepúsculo dos Deuses)

Por Pachá

A obra clássica de Billy Wilder carrega opiniões extremas, de um lado aclamado como ousado. Por outros de "cuspir no prato que comeu". O fato é que Wilder conseguiu o filme que fez por gozar de certo prestigio, em grande parte pelo ótimo Double Indemnity de 1944. 

Wilder que filmava para Paramount, expôs o mundo de faz de conta de Hollywood para contar a historia de um roteirista sem talento, e como vemos na primeira cena, igualmente sem sorte. Assim como em Double Indemnity, Sunset Blvd. também traz a poética urbana de Wilder nas reflexões, as vezes debochadas ou cínicas do seu protagonista, Joe Gills (William Holden) que tenta com todas as forças se manter na atmosfera glamorosa de Hollywood.

O filme começa pelo final, com o corpo de Gill em uma piscina. E logo somos lançados para um flashback que nos contará como Gills foi parar ali. Nos extras do DVD consta que a cena inicial era um tanto mais mórbida, ao mostrar Gills em um necrotério dialogando com outros mortos, mas na premier o público odiou o inicio o que obrigou  Wilder a refaze-la. O filme tem estrutura clássica, com três atos, muito bem identificados no filme, as telas pretas.

A trajetória do heroi de Wilder, Gills tem seu mundo revirado ao tentar escapar dos algozes oficiais de justiça que querem levar seu carro por falta de pagamento. Na fuga ele encontra esconderijo em certa mansão com ares abandonada na Sunset Boulevard. Mas logo descobre que ela não está abandonada. Norman Desmond (Gloria Swanson) é a dona da casa. E ai Wilder começa sua critica ao mundo faz de conta de Hollywood. Norman Desmond é uma atriz no ostracismo, tal qual a atriz verdadeira Gloria Swanson que em sua época era uma das mais bem pagas atrizes do cinema mudo, seu cachê se equiparava ao de Chaplim, mas que foi esquecida quando o cinema ganhou voz.

Norman vive na mansão com ares de abandono, gerenciada por Max (Erich Von Stroheim), assim como na vida real quando Max revela que ele era um diretor, Von Stroheim também foi um promissor diretor que se afundou em sucessivos fracassos comerciais, inclusive a cena em que Gills e Normam assiste a um filme, este filme é um dos ultimos de Von Stroheim estrelado por Gloria Swanson, que não foi bem recebido pelo público, o que só agravou sua credibilidade de diretor em Hollywood.

Na mansão Gills recebe proposta de Norman para reescrever um roteiro de um filme que fará o retorno triunfal da grande Norman Desmond as telas. Mas logo ele se vê preso as excentricidades da endinheirada Normam que se apaixona por Gills. E nesse ponto reside um elemento presente nos filmes de Wilder, pelo menos os que assisti Double Indemnity e Stalag 17, a corrupção, seja moral, ética. Gills se vende ao aceitar os caprichos de Norman em troca de ternos, cigarreiras e uma piscina, claro que é uma colocação simplista, mas de maneira macro é isso que ocorre, coube ao roteiro do próprio Wilder e Brackett torna tal desenrolar em algo sensacional. Gills se transforma em um menino a sombra da cinquentona Norman Desmond, refém do dinheiro desta, tal qual um guri depende dos pais para o dinheiro do lanche escolar.

Embora os críticos o classifique como filme noir, fotografia e a iluminação lembram muito os filmes de terror da época, a própria expressão de Norman as vezes ganha ares de terror conforme a luz. Wilder que tinha fama de detalhista, não aceitava jamais que ator alterasse uma linha se quer de seus roteiros, também era afeito a close ups excessivos, apenas os usava para enfatizar algo realmente importante, creio que em todo filme não há mais do que três close ups, o que demonstra segurança inabalável na composição das cenas e movimentos de câmera. Há uma cena, angulo alto, quase um P.O.V de Gills que Norman aparece literalmente com uma corda no pescoço, como se no meio do caminho para se suicidar ele se esquecesse do que havia iniciado.

No elenco há famosos do cinema mudo, como Anna Q Nillson (como ela mesma) atriz sueca antecessora de Greta Garbo, H.B Werner (como ele mesmo) um dos grandes atores dramáticos da época e Buster Keaton (como ele mesmo) um dos maiores comediantes juntamente com Chaplin.

Eles formam o que Gills chama de "bonecos de cera" e assim como na vida real, são atores que já tiveram seus dias de gloria no cinema mudo, mas que foram engolidos pelo cinema barulhento, sem rostos como costuma dizer a própria Norman Desmond. Em sunset Blvd. esses grandes atores, ainda nas palavras de Norman Desmond, ainda são grandes, os filmes é que ficaram pequenos.

Há também a participação de Cecil B. DeMille como ele mesmo. E notem, a cena em que ele aparece, ou melhor a cena que Norman vai à Paramount para tratar do roteiro que envio ao grande diretor com quem fez mais de doze filmes, é realizada em um set de verdade, e o filme que está sendo filmado, um épico, é Sansão e Dalila.

O filme é todo repleto de referências biograficas de Wilder que começou como roteirista na Alemanha na década de 30, bem como da indústria cinematografica hollywoodiana dos anos 50, points, festas, agentes e do dinheiro que parecia correr fácil. Mas é preciso assistir aos extras. E a par dessas informações, a experiência de assistir a Sunset Blvd. se trona ainda mais interessante, lembro que sensação igual, tive quando assisti a Citzen Kane e os extras do DVD.