sábado, 17 de dezembro de 2011

Drive



Por Pachá
Quando postei sobre o filme Valhalla de Nicolas Winding Refn deixei ali frizado que ficaria de olho nos próximos trabalhos desse diretor escandinavo. Pois é, o cara lançou drive em 2011. Este filme faturou o prêmio de melhor diretor em Cannes 2011.


Tudo é muito bem cuidado no filme, a começar pelos créditos em letreiro com aquelas fontes em magenta dos filmes dos anos oitenta, dando um certo ar retrô. Porém quando a fita começa a correr pelas retinas, percebemos que não só os créditos são uma homenagem aos anos oitenta, mas toda a atmosfera do filme nos remete à aquela época com toque noir, um neo-noir.

A trama de Drive é lenta, angustiante. Os diálogos são curtos e precisos. A trajetória do herói de Nicolas é silenciosa, densa e sem caminho de volta, quando o mundo comum desaba diante do olhar indiferente de "drive", é bom notar que o herói de Nicholas não tem nome, apenas "drive".

Ryan Gosling que é o ator da vez de Hollywood, o cara está em todas as fitas, desde comédias água com açúcar, até filmes densos como Drive. Neste ele é um sujeito solitário, que entre o trabalho regular como mecânico de uma oficina, tem alguns "bicos" curiosos. Um como dublê de cenas automobilísticas e outro como piloto de fuga. E como disse agente Smith em Matrix sobre as atividades de Neo, em um eu vejo futuro, no outro... Drive é vizinho de Irene (Carey Mulligan), a angelical mãe de Benicio e esposa de Standard (Oscar Isaac) que está prestes a sair da prisão. Os dois vivem em mundos opacos, insípidos. Mas uma carona acaba por mudar os dias de Drive.


Nicholas humaniza seu herói em um passeio de carro, uma conversa despretensiosa em um córrego, para depois deixar aflorar a natureza bestial inerente do ser humano, creio ser esse o conflito principal do filme. Em seu primeiro filme Bleed 1999 ele trabalha com essa questão, pulsão de morte.

Enquanto assistia a Drive dois diretores vieram a lembrança, talvez por causa da estrututa narrativa de Nicholas, William Friedkim e seu Live and Die in L.A e Sam Peckinpah , um pela estética oitentista e outro pela cenas de violência, é só prestar atenção na primeira cena de violência do filme e você diz, é o poeta da violência, quem assistiu a Straw Dogs sabe do que falo. Claro que é fácil associar Drive a Lynch pela atmosfera densa e silenciosa e Tarantino pelos tons de sangue, mas achei muito obvio, certamente estes influenciaram Nicholas, mas em minha percepção a referência principal são os dois primeiros.

No elenco tem Shannon (Bryan Cranston) dono da oficina em que Drive trabalha e ao que me pareceu, o agenciador de seu bico de dublê e piloto de fuga. Albert Brooks, famoso nos anos oitenta como ator e diretor, há um quê de Tarantino na montagem do elenco. Brooks é Bernie Rose um gângaster disfarçado de patrocinador de carros da NASCAR. Seu sócio é Nino (Ron Perlman) num papel pouco explorado, ele é quem aciona o gatilho da trama. Particularmente foi um ponto obscuro no roteiro de Hossein Amini, pois não é informado muito a respeito desses personagens. Mas ao analisá-los, todos os personagens são rasos no que diz respeito a passado. O roteiro é uma adaptação do livro de mesmo nome de James Sallis.

Em Drive Nicholas mantém o clima lento, arrastado de Valhalla, com poucas falas, mas contundente. A câmera parada ajuda a criar esse clima, muito bem apoiado pela fotografia de Newton Thomas Sigel, desbotada, granulada nas cenas diurnas e brilhantes nas cenas noturnas. O roteiro foge a todo instante dos estereotipados filmes de ação, perseguição e explosões, esta não há no filme. E as perseguições de carro, duas cenas. Sendo que a primeira é duma maestria pouco vista nos filmes do gênero, onde Nicholas opta por criar apenas a tensão, e a frieza de Drive em se esconder ao invés de fugir da policia. E a segunda, mais dinâmica lembra muito Lynch em Lost Highway, mas nem por isso tira a propriedade que Nicholas emprega em cenas de ação sem cari no lugar comum dos filmes do gênero. E ai você começa a perceber porque o filme abocanhou o prêmio de melhor diretor em Cannes.

Uma obra prima, e firma Nikolas Winding Refn como grande diretor. Todo esforço para assistir a esse filme é recompensado...






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